No recente encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, foi sinalizado o início de um ciclo de cortes na taxa Selic a partir de agosto. Isso tem levantado a expectativa de uma possível redução nas taxas de juros para o crédito imobiliário no final de 2023. Essa perspectiva positiva pode ser auxiliada por uma recuperação da caderneta de poupança, que é uma importante fonte de recursos para os bancos que concedem financiamentos imobiliários.
Participantes do painel sobre tendências no setor imobiliário do Seminário Real Estate, organizado pelo Estadão e pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), destacaram que a maior preocupação ainda reside na disponibilidade de recursos, já que os fundos destinados ao setor imobiliário têm diminuído nos últimos anos. O diretor da rede de atendimento do Banco de Brasília (BRB), Diogo Oliveira, também observou que a instituição está buscando expandir sua presença fora da capital federal e aumentar sua carteira de crédito no segmento imobiliário, enfrentando assim o desafio do financiamento.
É importante destacar as regras estabelecidas pelo Banco Central (BC) para os recursos da caderneta de poupança. Segundo essas normas, 65% dos fundos da poupança são direcionados para financiamentos imobiliários, enquanto 20% são mantidos como reserva de liquidez por meio de depósitos compulsórios. Os restantes 15% são de uso flexível para as instituições financeiras.
Entretanto, a poupança tem enfrentado desafios recentes: desde o ano passado, houve uma perda significativa de R$ 173 bilhões devido a saques superiores aos depósitos, influenciados pelas flutuações na economia brasileira.
Somente no ano de 2023, a poupança já apresentou um déficit de R$ 70,2 bilhões até o mês de julho. O ano anterior também foi marcado por um saldo negativo recorde de R$ 103,2 bilhões, conforme dados fornecidos pelo Banco Central. Com a caderneta de poupança se esvaziando, os bancos adotaram medidas para buscar financiamentos em outras fontes, com foco na concessão de empréstimos para a compra e construção de habitações.
Para suprir essa necessidade, os bancos recorreram a instrumentos como a letra de crédito imobiliário (LCI), a letra imobiliária garantida (LIG) e os certificados de recebíveis (CRI). No entanto, o custo de captação desses recursos é mais alto para as instituições financeiras, o que levou ao aumento das taxas de juros para compensar os custos adicionais. Consequentemente, as taxas de juros para empréstimos imobiliários atualmente giram em torno de 11% ao ano, em média.
Inflexão
Com a perspectiva de redução da taxa básica de juros (Selic) e um fortalecimento esperado das cadernetas nos próximos meses, o cenário para o setor imobiliário no Brasil pode estar passando por uma mudança significativa. A expectativa é que a diminuição da Selic resulte em custos menores para a captação de recursos, permitindo um aumento no crédito imobiliário. No entanto, a chave para o crescimento sustentável está em encontrar maneiras de financiar essa expansão de forma responsável.
O Banco de Brasília (BRB) prevê que a redução da Selic abrirá espaço para o crescimento no crédito imobiliário, e a instituição planeja discutir a possibilidade de redução das taxas de juros a partir do final do ano. Além disso, a competição entre os bancos deve se intensificar, levando a uma retomada da portabilidade de financiamentos entre diferentes instituições, o que pode pressionar ainda mais as taxas para baixo.
Luiz França, presidente da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), defende uma redução de 5% nos depósitos compulsórios exigidos dos bancos, com o propósito de direcionar os recursos liberados para financiamentos imobiliários. Caso essa medida seja aprovada, aproximadamente R$ 38 bilhões poderiam ser injetados no mercado imobiliário, potencialmente impulsionando ainda mais o setor.
Marco das garantias
O Projeto de Lei 4.188/2021, conhecido como Marco Legal das Garantias, trouxe notícias positivas para o setor, sendo aprovado no Senado e aguardando avaliação na Câmara dos Deputados. Uma das inovações da legislação é permitir que um mesmo imóvel seja utilizado como garantia para múltiplas operações de financiamento. Esse novo marco é considerado relevante por especialistas do setor, que veem nele uma oportunidade para aumentar a disponibilidade de recursos.
O presidente da Associação das Empresas de Loteamento (Aelo), Caio Portugal, destacou que com maior segurança jurídica na concessão de crédito, a implementação desse marco das garantias pode atrair mais competidores e, consequentemente, aumentar a oferta de recursos.
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Informações retiradas de Estadão