A intenção de compra de imóveis no Brasil atingiu o menor nível em três anos, de acordo com uma pesquisa realizada pela Raio-X FipeZap+. No primeiro trimestre deste ano, apenas 40% dos brasileiros entrevistados planejavam adquirir uma casa própria nos próximos três meses.
Esse índice representa uma queda em relação ao trimestre anterior e é atribuído principalmente aos juros altos e à incerteza em relação ao emprego e à renda. A pesquisa foi baseada na intenção de compra de mais de mil usuários ativos dos portais de venda de imóveis Zap+ e Viva Real.
Esse cenário reflete a desaceleração do mercado imobiliário e evidencia os desafios enfrentados pelos brasileiros na realização do sonho da casa própria.
O economista Alison de Oliveira, coordenador de índices da FipeZap, aponta que o mercado imobiliário enfrenta um número reduzido de famílias interessadas em comprar imóveis, devido à insegurança no mercado de trabalho e ao alto custo dos financiamentos. Em março, a taxa média anual de juros para empréstimos direcionados à compra de imóveis atingiu o maior patamar desde agosto de 2016, chegando a 11% ao ano.
Essa elevação nos juros, combinada com a limitação de comprometimento máximo de 30% da renda bruta com financiamento, tem dificultado o acesso ao crédito para um número menor de pessoas. A consequente redução na liquidez de crédito acaba impactando as vendas no mercado imobiliário. Esses fatores têm contribuído para a queda na intenção de compra de imóveis por parte das famílias.
O mercado imobiliário de São Paulo vem apresentando uma redução significativa no número de transações de imóveis, tanto novos quanto usados, de acordo com dados registrados nos cartórios. A partir de fevereiro de 2022, mês após mês, houve uma queda contínua nesse indicador em comparação com o mesmo período de 2021. No mês de dezembro, por exemplo, os registros de imóveis tiveram uma queda de 13,4% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Um fator que contribui para essa redução é o aumento dos juros, que está impactando negativamente a cadeia de produção de imóveis novos. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC) projeta uma queda de 30% na quantidade de unidades novas financiadas no primeiro bimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2022. No entanto, há preocupações de que essa projeção conservadora possa ter sido superada, resultando em uma queda ainda maior no fechamento do trimestre.
O mercado imobiliário enfrenta desafios devido aos juros altos no Brasil, de acordo com um executivo do setor. O efeito indireto dessas taxas elevadas afeta a caderneta de poupança, tornando-a menos atrativa para os investidores. Isso leva as pessoas a migrarem para outras formas de investimento, resultando em menos recursos disponíveis para financiar a compra da casa própria.
No primeiro trimestre deste ano, o volume financiado com recursos das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) foi de R$39,8 bilhões, representando uma queda de 3,4% em comparação com o mesmo período do ano anterior, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Nos últimos 12 meses até março, o total financiado foi de R$177,8 bilhões, registrando uma queda de 12,6%.
O presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil), José Carlos Martins, destaca que os valores desatualizados para financiar imóveis com recursos do FGTS agravam a falta de liquidez de crédito no mercado imobiliário. Ele ressalta que a combinação dos obstáculos enfrentados pela poupança e pelo FGTS cria um impasse, resultando em um momento de redução de atividade no setor.
Por outro lado, o economista-chefe do Secovi-SP, Celso Petrucci, observa que, apesar da cautela dos empresários em relação aos lançamentos no primeiro trimestre na cidade de São Paulo, as vendas de imóveis novos estão com um desempenho melhor do que no mesmo período do ano passado. Ele destaca que esses resultados vão de encontro às expectativas, uma vez que não houve redução dos juros no período.
No primeiro trimestre de 2023, a cidade de São Paulo registrou uma redução de 6,3% no lançamento de unidades imobiliárias em comparação com o mesmo período do ano anterior, de acordo com o Secovi-SP, Sindicato da Habitação. No entanto, as vendas de imóveis totalizaram 16.180 unidades, representando um aumento de 13,3% em relação ao primeiro trimestre de 2022, além de um crescimento de 11% em valor.
O economista-chefe do Secovi-SP argumenta que os compradores de imóveis neste momento têm a expectativa de que as taxas de juros diminuam nos próximos anos, quando o imóvel for entregue. Essas vendas referem-se a unidades vendidas na planta, com financiamento direto da construtora. Acredita-se que, quando o empreendimento for concluído e o financiamento bancário entrar em cena, o custo do crédito imobiliário será menor do que o atual.
O economista destaca a possibilidade de diminuição da taxa Selic, argumentando que ela tem um limite e pode não aumentar. Essa perspectiva de redução das taxas de juros pode estar motivando os compradores a adquirirem imóveis, impulsionando o crescimento das vendas no setor imobiliário no primeiro trimestre deste ano em comparação com o ano anterior.
Quer continuar atualizado sobre o mercado imobiliário? Então se inscreva na nossa Newsletter. Todas as terças e sextas, às 7:15, nós enviamos no seu e-mail as principais notícias do mercado Imobiliário. Vejo você lá!
Informações retiradas de Márcia De Chiara à Estadão