Uma verdadeira safra de imóveis na planta inacabados na China está deixando os consumidores chineses assustados e esfriando o mercado imobiliário local. Há vários casos no qual as obras são interrompidas por problemas financeiros das empresas, assim os compradores acabam ficando no prejuízo. E, como represália, há um movimento de boicote do pagamento dos financiamentos imobiliários;
O cenário é resultado do alto controle financeiro sobre o mercado imobiliário imposto pelo presidente Xi Jinping desde o ano passado para conter uma bolha. Com isso, os desenvolvedores ficaram sem fundos e pararam a construção de diversas unidades antes de serem concluídas.
Só que esse enfraquecimento do mercado imobiliário também está puxando a economia chinesa para baixo. No primeiro trimestre deste ano a expansão econômica foi 3,9% em relação a 2021. Mas apesar de ter superado expectativas, ainda está bem abaixo da meta estipulada de 5,5%.
Desconfiança em relação aos imóveis na planta causa inversão no mercado
O medo de comprar imóveis na planta e a obra não ser finalizada está causando uma inversão incomum no mercado. Em alguns locais, como Zhengzhou, imóveis usados têm tido mais vendas do que os novos. O local é considerado epicentro da turbulência dos imóveis na planta, mas não é o único.
E por toda a China tem ocorrido movimento semelhante. Apesar do imóvel na planta ser a preferencia dos chineses, não é o que se observa no momento. No início de outubro as vendas de imóveis na planta por área chegaram a despencar quase 40% no ano. Mas as vendas de imóveis de segunda mão aumentaram mais de 50%.
Governos incentivam a não vender imóveis na planta
Tudo isso está desencadeando um outro movimento curioso. Os governos locais estão incentivando as empresas a deixarem para colocar os imóveis à venda apenas após sua conclusão. Ou seja, não venderem os imóveis na planta.
Para os especialistas, não é apenas uma forma de evitar os problemas com os compradores de construções inacabadas. Mas é também uma forma de as autoridades locais se beneficiam com a venda dos direitos de uso de terrenos estatais.
Isso acontece porque quando a demanda por habitação se concentra em propriedades usadas, os governos locais perdem essas receitas de uso da terra.
Para entender: em setembro, Pequim leiloou 18 lotes. Mas a maioria tinha a condição de que um percentual das unidades só pudesse ser vendido após a construção concluída. Resultado: apenas um incorporador privado levou um dos terrenos colocados à venda.
O que acontece é que as vendas pós-construção aumentam os custos de financiamento para o desenvolvedor em até 30%. E os desenvolvedores do setor privado estariam em desvantagem, pois enfrentam custos de financiamento muito mais altos do que as empresas estatais.
Mas quanto mais as estatais se apoderarem-se da indústria da construção, tomando o lugar que hoje ainda é das privadas, a vitalidade da economia chinesa ficará ainda mais depauperada.
Fonte: Valor Empresas