No início do mês, o Ministério da Economia encaminhou para o Congresso Nacional a previsão orçamentária para 2023. Dias depois, repercutiu um dos itens previstos no orçamento, que são os valores destinados para programas habitacionais, como o Casa Verde e Amarela. O valor previsto é de apenas R$34,5 milhões, um corte de 95% ao orçamento deste ano, que já é considerado deficitário.
Embora algumas construtoras e incorporadoras da B3 fecharam com saldo positivo, as ações caíram significativamente na última sexta-feira (16). Com exceção de Cury (CURY3), que, por volta das 15h40, avançava 4%, e de MRV (MRVE3) — que inverteu o sinal após iniciar a sessão em baixa —, todos os outros nomes do setor operavam no campo negativo. Ao longo do pregão, porém, outros três ativos também conseguiram virar o jogo. Veja o saldo final do dia:
- Cury (CURY3): +4,25%
- Cyrela (CYRE3): -1,56%
- Direcional (DIRR3): -1,05%
- EZTec (EZTC3): +0,10%
- MRV (MRVE3): +2,03%
- Plano & Plano (PLPL3): +0,29%
- Tenda (TEND3): +2,82%
Em nota, o Ministério da Economia admitiu, que “os recursos previstos ficaram aquém da necessidade e da vontade do governo federal”.
Os possíveis impactos
Embora se aplique apenas a 2023, os impactos já poderão ser sentidos nos próximos meses, uma vez que sem garantia de recursos para o ano que vem, o MDR (Ministério do Desenvolvimento Regional) fica impedido de retomar 15 mil obras paradas e que estavam na programação da pasta para recomeçar até dezembro.
Os canteiros ativos podem continuar operando com a verba deste ano, mas, a partir de janeiro, 125 mil obras devem ser suspensas, caso a reserva de recursos não seja revista durante a votação do Orçamento.
O setor da construção esperava uma verba de R$ 780 milhões para o programa no ano que vem, valor próximo ao reservado inicialmente para 2022, mas o tamanho do corte assustou o setor imobiliário.
“Isso é uma loucura, porque [o governo] contrata e [a empresa] vai entregar lá na frente. E o pessoal que está construindo agora já sofreu com aumento de custos, estão tendo de absorver custo para cumprir o contrato“, critica o presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), José Carlos Martins.
Segundo ele, a interrupção das obras tem potencial para ampliar os prejuízos das construtoras, pois elas compram materiais e insumos em grandes quantidades, muitas vezes em volume suficiente para toda a obra, para conseguir barganhar preços. A interrupção dos contratos pode gerar um desequilíbrio no fluxo de caixa desses empreendimentos.
“São obras que foram retomadas após um período de falta de pagamento. Essa insegurança é muito nefasta”, afirma Martins.
Como ficará as construtoras de baixa renda?
Gustavo Gomes, sócio e assessor de renda variável da Acqua Vero Investimentos, afirma que a redução “é bastante relevante” para as construtoras. “O subsídio do governo é muito importante para as famílias dentro do programa, visto que ele chega a pagar até 30 a 40% do valor total do imóvel.”
Ele explica que o impacto deve ser sentido principalmente por companhias como MRV (MRVE3) e Plano&Plano (PLPL3), que trabalham com as faixas de renda mais baixas do CVA.
“A situação é diferente na EZTec (EZTC3), por exemplo, que, por mais que também faça algumas residências dentro do programa, não tira de lá a maior parte da sua receita”, destaca Gomes.
Mas opiniões dos especialistas divergem…
A visão de que a previsão orçamentária do governo é prejudicial para o setor não é unânime. Uma analista de setor imobiliário faz questão de relembrar que a maior parte dos recursos utilizados pelas empresas listadas não vem do Orçamento da União, e sim do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
“As empresas de baixa renda às vezes são impactadas por esse tipo de notícia. Mas isso é um grande erro, pois o financiamento da LDO afeta apenas o primeiro grupo do programa”, afirma.
Bruce Barbosa, fundador da Nord Research, acrescenta que além de não ser uma grande preocupação do setor, a previsão orçamentária não é definitiva. “Os números não fecham a conta e qualquer presidente que ganhar as eleições terá que mudar o orçamento”, argumenta ele.
Senadores e Deputados terão ate dezembro para votar a proposta orçamentária.
Fonte: Seu Dinheiro e Folha de SP